Estádio Internacional
deYokohama, 18 de dezembro de 2005. Os relógios japoneses marcavam 22h40 quando
ouvia-se pela última vez o apito do árbitro mexicano Benito Archundia. O mundo se
tornava Tricolor pela terceira vez. Era a coroação de um time sem grandes estrelas,
mas de um espírito guerreiro poucas vezes visto na história do futebol. Após 90
minutos de uma batalha sem precedentes, o São Paulo FC derrotava o poderoso
Liverpool, invicto há onze jogos e que não tomava um gol sequer nos últimos mil
minutos.
Os ingleses eram uma
seleção do mundo, gigantes, destemidos e muito, mais muito arrogantes. “Somos
imbatíveis”, disse o capitão e craque daquele time, Steven Gerrard. Os brasileiros,
não tinham o mesmo tamanho, a mesma força... Nem valiam tanto quanto os
europeus. Mas existia uma coisa que diferenciava os são-paulinos dos demais
naquele mundial: a alma. Rogério Ceni; Fabão, Lugano e Edcarlos; Cicinho,
Josué, Mineiro, Danilo e Júnior; Amoroso e Aloísio. Onze gladiadores que
vestiram a armadura vermelha-branca-preta com um único objetivo: devolver ao
clube aquilo que sempre lhe pertenceu: o mundo.
A batalha começou
quente e, logo nos primeiros minutos, o Liverpool (que atropelara o pobre
Deportivo Saprissa na semifinal) mostrou para o que veio. Cruzamento de Gerrard
e a cabeçada forte de Morientes passou muito perto do gol daquele que, uma hora
e meia depois, seria aclamado e consagrado M1TO. O susto foi grande e os
guerreiros tricolores acuaram. Pouco depois, invasão do campo e a paralisação
da partida. Para a nossa sorte, um corintiano correu para a direção de Ceni e
se jogou em suas redes. Mal sabia que o título mundial de seu rival começava a
ser desenhado ali.
O São Paulo voltou melhor
após a confusão e se impôs. Chances de Aloísio, Cicinho, Amoroso... Mas a bola insistia
em não entrar. “Será que aquela defesa era mesmo intransponível?”, me perguntei
naquele dia. Onze jogos... Mil minutos... Nem um gol! Será que pararíamos nos
gigantes Carragher e Hyypia!? Será que não
vazaríamos o bom arqueiro José Manuel Reina naquela noite? Parecia que não!
Parecia, pois, aos 26 minutos da primeira etapa, Fabão lançou para Aloísio na
intermediária; o camisa 14 são-paulino matou no peito e, de três dedos, pareceu
ter colocado a bola com as mãos nos pés de um pequenino gaúcho de alcunha Mineiro.
Quase que na marca do pênalti - perseguido pelos adversários grandalhões - o
discreto volante destruía o muro inglês. Gol do São Paulo e início de algo
inexplicável que vive dentro de mim até os dias de hoje.
Os outros
70 minutos de partida se resumiram em ataque total do Liverpool contra a defesa
do Tricolor Paulista. Fabão, Lugano, Edcarlos e o resto do time marcavam de
forma implacável. Debaixo das nossas traves, um ídolo se eternizava a cada bola
chutada. O mundo voltava ser nosso a cada milagre realizado por ele. O mais
belo de todos, em uma cobrança de falta do craque e falastrão Gerrard. O chute,
no ângulo esquerdo, foi perfeito. Gol na certa. (???) Gerrard e o mundo só não
contavam com a defesa perfeita. O guerreiro que vestia a n° 1, mesmo ferido,
voou e pôs aquela bola para fora. Ainda me emociono quando vejo aquela cena.
O
bombardeio contra a meta são-paulina continuou, mas nossa retaguarda era boa
demais. Para deixar a trama com ainda mais emoção, três gols do Liverpool muito
bem anulados. O último deles a dois minutos do fim.
Última
bola do jogo: lançamento do meio de campo, Crouch, com seus dois metros de
altura, vence Lugano e cabeceia para trás; Luís Garcia, na entrada da área,
domina; Por milésimos de segundo o planeta parou; O espanhol chuta forte e a
bola vai para fora. “Acabou!”, gritava Galvão Bueno. “Acabou”, eu gritava em
meio às lágrimas... ACABOU! Os de branco venceram os de vermelho.
18 de
dezembro de 2005, o dia mais feliz da minha vida como torcedor. Chorei com
Ceni, Fabão, Lugano, Mineiro, Aloísio... Assim como eles, eu sabia que aquele
momento era único. Ao final, a imagem do nosso eterno capitão levantava a taça. Por segundos, cheguei a sentir o peso daquele troféu em minhas mãos.
Senti que eu também fazia parte daquele momento, daquela conquista...
Esse jogo foi realmente foda e torci como louco para o São Paulo. Melhor jogo do Rogério Ceni e uma das maiores defesas que já vi ao vivo. Esse dia realmente foi tricolor.
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